SEDE DO DEUS VIVO
Todo ser humano tem sede de felicidade. Todo coração humano busca
insistentemente satisfazer seus anseios íntimos de plenitude. A grande maioria
lança-se pelos mais diversos caminhos na busca de algo que possa satisfazer.
Busca nas riquezas, nos prazeres de toda sorte, no poder, na fama e nas glórias
humanas. Todos esses ficam frustrados, pois o coração humano não pode se
satisfazer com essas soluções. Só o amor pode fazer feliz, realizado e
satisfeito o coração humano, pois foi criado “para” o amor. Ora, o amor
absoluto, perfeito e plenificante que o pode satisfazer e deixar feliz é Deus,
pois “Deus é amor”(1Jo 4,8.16). Só a posse de Deus pode fazer o coração feliz.
Ao encontrar o Deus vivo, ao mergulhar no maravilhoso oceano do seu mistério,
do seu amor, do seu poder, da sua bondade e fidelidade, da sua misericórdia e
salvação, o coração humano se satisfaz, sente-se pleno, realizado, feliz. Esta
felicidade o leva a buscar ansiosamente um relacionamento pessoal, a construir
uma amizade única com o seu Deus vivo. A amizade com Deus o impulsiona sempre
mais a querer possui-lo, abrangê-lo, admirá-lo, envolver-se com ele, e a ele se
render sem restrições e medidas. Esta “fascinação por Deus” se torna
insaciável. Quanto mais o possui e é por ele possuído, tanto mais quer
possuí-lo e ser possuído. Esse “crescendo” vai até à eternidade, pois só ali há
a absoluta e definitiva “mútua posse”.
O autor do salvo 62 faz uma oração-declaração, profundamente reveladora do
“crescendo” que ocorre com o coração que é possuído e que possui a Deus. Este
salmo revela as emoções de felicidade diante da posse de Deus, e da
possibilidade de intensificá-la mais e mais.
“Sois vós, ó Senhor, o meu Deus”! - O coração revela aqui, sutilmente, a
alegria e a sorte de conhecer o Deus vivo e verdadeiro, e de possuí-lo como
“seu” Deus.
“Desde a aurora ansioso vos busco! Penso em vós, no meu leito, de noite! Nas
vigílias suspiro por vós”!- Deus gera tal satisfação e felicidade que o coração
o procura insistentemente “desde a aurora”, desde o abrir os olhos na
madrugada, antes de entregar-se ao sono, e até nas noites maldormidas. Porque
anseia pela felicidade e encontrou a sua fonte, o coração é induzido a buscar a
Deus e a querer estar com ele em todos os momentos.
“A minh’alma tem sede de vós! A minha carne também vos deseja, como terra
sedenta e sem água”! – Alma e carne, espírito e corpo, “tem sede e desejam” uma
posse mais intensa, pois então será maior a felicidade, a satisfação, a
plenitude, o repouso feliz em Deus.
“Venho, assim, contemplar-vos no templo, para ver vossa glória e poder”! O
templo é o lugar privilegiado da presença do Deus-Amor, que faz o coração
feliz. O templo mais próximo, mais revelador da presença divina é o próprio
coração amante de Deus, empolgado com Deus. Revela São Paulo: “Não sabeis que
sois templos de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós”? O coração amante
de Deus sempre o procura para contempla-lo, para admirá-lo, para descobrir
nele, progressivamente, seus atributos, suas belezas divinas, sua grandeza e poder.
“Vosso amor vale mais do que a vida, e por isso meus lábios vos louvam. Quero,
pois, vos louvar pela vida, e elevar para vós minhas mãos”! Ao contemplar o
Deus vivo e amado, o coração descobre que “ele é amor”, e que esse amor é dom
preciosíssimo, que “vale mais do que o próprio viver”. Diante dessa descoberta,
o coração não pode calar, não consegue silenciar. “Abre os lábios” e “eleva as
mãos” para adorar, louvar, engrandecer, exaltar e render-se a Deus.
“A minh’alma será saciada como em grande banquete de festa! Cantará a alegria
em meus lábios, ao cantar para vós o meu louvor”! Ao contemplar, louvar,
possuir e ser possuído por Deus, o coração se satisfaz “no banquete do amor”, e
sente a plenitude que tanto anseia. Nesta “festa do coração”, a alegria intensa
faz jorrar o louvor ao Deus vivo.
Só o amor “do e pelo” Deus vivo pode satisfazer o coração humano, pode gerar a
verdadeira e duradoura felicidade tão ansiada por ele. Todos queremos e
buscamos a felicidade. Eis onde ela se encontra: na amizade profunda com o Deus
vivo, uno e trino, cultivada com perseverança e fidelidade, por meio de toda
forma de relacionamentos religiosos, espirituais e místicos.
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