. A VIRTUDE
DA ALEGRIA
Toda virtude é uma força interior,
presente no coração, que leva a realizar
os atos próprios dela mesma. Por exemplo: a virtude da humildade leva a
realizar atos humildes. A virtude da mansidão leva aos atos que manifestam a
mansidão. Assim a virtude da alegria, além de gerar um bem estar interior
feliz, se manifesta com expressões de alegria.
É preciso distinguir desde logo três
tipos de alegria: 1º. A alegria natural. É aquela que reside naturalmente numa
pessoa. É congênita. A pessoa é alegre por natureza. 2º A alegria momentânea, é aquela que
desponta sempre que haja um acontecimento bom. 3º A alegria virtude-fruto,
aquela que reside no íntimo de uma pessoa, motivada por razões agradáveis e
permanentes. Falamos aqui dessa terceira:
a virtude da alegria.
A
virtude da alegria é profunda, agradável, feliz, gratificante. Na verdade, essa
virtude nasce do amor-caridade. Aquele que “experimenta” pessoalmente e vive a
maravilha do amor do Pai celeste, do amor de Jesus ressuscitado, do amor do
Espírito Santo e do amor dos irmãos, só pode sentir muita alegria profunda,
baseada nesse amor. Trata-se de uma alegria recheada de felicidade. É muito
profunda e duradoura. Saber-se amado gratuita e incondicionalmente pelo Pai,
por Jesus, pelo Espírito Santo e pelos irmãos, gera essa alegria espiritual
profunda que deixa o coração realmente satisfeito e feliz. Existindo essa
experiência do amor de Deus e dos irmãos, existem causas profundas e duradouras
para que a alegria seja permanente.
A
verdadeira alegria do coração humano baseada no amor de Deus e dos irmãos é
também fruto do Espírito Santo. Quero dizer, é o Espírito Santo quem a produz,
pois é Ele quem nos concede o amor de Deus e dos irmãos.
A alegria e o gozo gerados
pelo Espírito Santo são caracterizados por aquelas emoções interiores, por
aquela alegria interior, e por aquela satisfação espiritual profunda que Ele
derrama no coração e na alma. A pessoa sente uma alegria, um gozo inexplicáveis.
Não há palavras humanas que possam descrever a alegria e o gozo que provêm do
Espírito Santo.
A alegria produzida pelo Espírito é
o profundo regozijo do coração, o verdadeiro gosto de viver,
a "satisfação no Senhor", independente das circunstâncias. "Alegrai-vos sempre no Senhor! Repito,
alegrai-vos”, exclama São Paulo (Fp 4,4). A
pessoa pode passar por momentos difíceis que trazem tristeza, mas esta não
substitui a alegria do Espírito. Mesmo durante as mais duras provações, podemos
continuar experimentando a alegria no espírito.
É
o amor quem gera a alegria. O não saber amar é que gera a tristeza. Para sermos alegres, portanto, devemos pensar
nos outros. A generosidade vivida sem medidas leva à alegria. Quando formos generosos,
descobriremos quem somos nós e o que realmente é a felicidade. As pessoas mais
alegres são aquelas que colocaram Deus em primeiro lugar, como fonte de todo
amor. Assim a alegria verdadeira tem uma origem espiritual.
Quem
vive com amor sabe que não deve ter medo da dor e das tribulações, mas que a
alegria é compatível com as dificuldades.
A
alegria é também uma virtude cristã. São
Paulo exortava os cristãos de Filipos: «Alegrai-vos
sempre no Senhor! De novo o digo: alegrai-vos!» (Fp 4,4). Esta
insistência do Apóstolo deve ajudar-nos a entender que a alegria, para um
cristão, não é só um sentimento. É algo que se procura, que se busca, usando da
própria força da alma. . O mesmo Apóstolo explica noutras epístolas: «Deus ama quem dá com alegria» (2 Cor 9,7); e
aos Gálatas diz que a alegria é um fruto do Espírito Santo (Ga 5,22).
Como
é que se pode transformar um sentimento (a alegria) numa virtude? Como é que se
pode transformar uma ocorrência momentânea numa disposição habitual? A prática da alegria exige que se considere
de um modo frequente aquilo que já possuímos e aquilo que ainda não
possuímos, mas que temos uma esperança
firme de vir a possuir. Na prática, se consideramos com freqüência o grande
amor de Deus por nós, e o nosso amor para com os irmãos, vamos consolidando as
causas da alegria, e ela se tornará cada vez mais forte e profunda.
O
exercício da virtude da alegria é, portanto, uma prática cristã. O cristianismo
não pode ser nunca uma religião de tristeza porque isso seria identificá-lo com
uma realidade má. A fé ensina-nos que já somos filhos de Deus e que ainda não
se manifestou plenamente o que havemos de ser (1 Jo 3,2) mas
essa esperança não engana porque o amor
de Deus já foi derramado nos nossos corações (Rm 5,5). Por
ser virtude, a alegria se manifesta em sorrisos, otimismo, abertura de coração,
solidariedade, declarações de amor-caridade.
As
virtudes são como uma coroa de pérolas na qual cada uma tem sua beleza e força.
E, ligadas entre si pelo fio do amor, formam uma unidade. A alegria é uma
virtude sempre urgente. Se toda virtude
procede de Deus e é uma participação de sua natureza, podemos nos
perguntar: ‘Deus alegre?’ Lemos em
Neemias: “Não vos entristeçais, pois a
alegria do Senhor é a vossa força (Ne 8,10). O amor vivido no seio da
Trindade Santa é eterna alegria. Na mútua entrega e no mútuo acolhimento
perpassa a alegria de existir e ser. Jesus a testemunha quando na parábola dos
talentos Ele afirma: “Muito bem, servo
bom e fiel. Vem participar de minha alegria!”(Mt 25,21).
A alegria do Pai celeste é ver a
alegria dos filhos. O que Jesus sempre pregou foi a prática do amor uns para
com os outros. Ensina: “Este é meu
mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15,12). Este amor
se constrói dentro de uma comunidade e é razão da alegria de viver, como lemos
em Atos: “Dia após dia, unânimes,
freqüentavam o templo e partiam o pão pelas casas, tomando o alimento com
alegria e simplicidade de coração” (At 2,46). Essa alegria é alimentada
pelo Espírito Santo: “Os discípulos,
porém, estavam cheios de alegria e do Espírito Santo” (At 13,52), pois o “Reino de Deus... é justiça, paz e
alegria no Espírito Santo” (Rm 14,17). Jesus comunicou a alegria a seus
discípulos e quer que seja uma dominante da comunidade nascente. Uma das
experiências mais autênticas de Deus é o sentimento de profunda alegria que nos
invade. Há uma razão: a presença de Deus em nós. Os fiéis curtem essa alegria
em suas festas e na singeleza de seus relacionamentos.
Retomando o texto de Neemias “não vos entristeçais, pois a alegria do Senhor é a vossa força” (Ne
8,10), notamos que a alegria nos coloca acima das dificuldades da vida. Somos
ungidos pelo Espírito que “nos ungiu com
óleo de alegria” (Sl 45,7). O Evangelho é uma boa notícia de vida que
provoca alegria. Os sofrimentos, mesmo que nos levem às lágrimas, não destroem
as mil razões que temos de ter alegria. Seremos úteis ao mundo se formos
instrumentos da alegria de Deus. Ela aliviará a cruz que carregamos. “Alegrai-vos sempre no Senhor! (Fl 4,4).
1 Comentários:
Maravilhoso
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