O dogma de fé da presença real de Jesus na Eucaristia foi definido e proclamado no Concílio Ecumênico de Trento, nos anos de 1545 a 1563. Na verdade, a fé na presença real de Jesus sob as espécies do pão e do vinho consagrados vem desde o início da Igreja. Aliás, poderíamos dizer, desde a Santa Ceia. Logo após Pentecostes, vemos a primeira comunidade cristã celebrando a “Fração do Pão” (At. 2,46).
Desde os inícios das comunidades cristãs, escritores cristãos e teólogos procuraram explicar esse mistério. Queriam explicar como era essa presença de Jesus na Eucaristia. Dessa forma surgiram muitas teorias diversas, algumas divergentes. Houve muitas discussões e debates, com argumentos diversos usados pelas partes discordantes. Houve até teorias que foram consideradas como heréticas. O surgimento de doutrinas heréticas levou os teólogos a aprofundarem cada vez mais suas teses, o que enriqueceu muito a doutrina sobre a Eucaristia. Os debates continuaram por quase mil e quinhentos anos.
Até o Concílio de Trento não houve uma definição definitiva sobre a doutrina da presença real de Jesus na Eucaristia. Não havia uma declaração dogmática. Mas era chegada a hora de definir essa verdade, a fim de que os católicos pudessem ter segurança absoluta a respeito desse mistério de fé.
Reunidos em Concílio, os bispos do mundo inteiro propuseram-se definir como dogma de fé essa verdade. Invocaram vigorosamente para que o Espírito Santo os iluminasse. Estudaram tudo quanto se havia escrito e debatido, inclusive as afirmações heréticas. Por fim, expuseram toda a verdade sobre a presença real e a declararam como verdade de fé, constituindo, assim, o Dogma Eucarístico.
Que é um dogma?
Dogma é uma verdade da fé cristã, declarada oficialmente como verdade de fé, pela hierarquia da Igreja, a fim de que os católicos tenham certeza absoluta a respeito da mesma. Não é a declaração da hierarquia que cria a verdade. A verdade existe por si só. Mas como é uma verdade envolta em mistério e que poderia deixar dúvidas, a hierarquia declara que aquela verdade é verdadeira e que podemos crer nela e ter certeza de estarmos dentro da verdade.
O dogma de fé é declarado a fim de termos segurança diante daquela verdade. Por exemplo. A presença de Jesus no Pão e no Vinho consagrados é uma verdade. Mas como não podemos provar pelas ciências, em laboratório, poderia alguém permanecer em dúvidas. Então a Igreja, assistida pelo Espírito Santo, declara essa verdade como um dogma. Podemos então crer firmemente, sem receios de estarmos errando, ao crer na presença real. Todos os dogmas nos dão segurança em nossa vida de fé.
É muito importante conhecer as principais declarações desse Concílio. A partir dele, temos uma certeza da verdade sobre todos os aspectos que envolvem esse mistério maravilhoso de nossa fé católica.
Diz o Concilio:
"Em primeiro lugar, o sacro concílio afirma aberta e simplesmente que no sacramento da santíssima Eucaristia, - que alimenta, - depois da consagração do pão e do vinho, Nosso Senhor Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, está contido verdadeiramente, realmente e substancialmente sob a aparência de tais coisas sensíveis" (do pão e do vinho)
Sobressaem as afirmações:
1. Que o Concílio estava fazendo uma declaração de fé, de dogma, para que a partir de então, ficasse definida toda a verdade sobre a Eucaristia.
2. Que “Nosso Senhor Jesus Cristo, está contido verdadeiramente, realmente e substancialmente sob as aparências do pão e do Vinho”. Portanto está definido que Jesus está realmente presente na Eucaristia. Que não é apenas uma presença simbólica, mas real. Jesus “está”.
3. Que “Nosso Senhor Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem” está presente”. Não é só o Jesus humano que está na Hóstia, mas Jesus Deus e homem. Havia discussões a respeito disso. Alguns afirmavam que era só o Jesus humano, só sua natureza humana que estava presente. O Concílio deixou isso bem definido.
4. Que “Depois da consagração do pão e do vinho” está realmente presente Jesus.
Define-se aqui que é na hora da Consagração, na Santa Missa, que o pão e o vinho são transformados em Corpo e Sangue de Jesus. Portanto, só na celebração eucarística, com a presença de um sacerdote, é que ocorre a transubstanciação.
5. Que “é sob a aparência de tais coisas sensíveis" (do pão e do vinho), que Jesus está realmente presente.
Ressalta-se que as aparências do pão e do vinho permanecem, mas sua essência é transformada em Corpo e Sangue. Sim, permanece aquilo que aparece: a forma, a cor, o gosto. Mas a essência muda.
Aqui podemos refletir com simplicidade que, se o pão se transformasse em um pedaço da carne humana de Jesus, e o vinho se transformasse num bocado do sangue de Jesus, com a cor, a forma e o gosto de carne humana e de sangue humano, quem comungaria?...
Diz o Concílio:
"No santíssimo sacramento da Eucaristia, estão contidos verdadeiramente, realmente e substancialmente o corpo e o sangue, em união com a alma e a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, e portanto, o Cristo todo".
Ressaltamos aqui:
1. Que “Nosso Senhor Jesus Cristo, ‘todo’”, está contido verdadeiramente, realmente e substancialmente no sacramento da Eucaristia, e não apenas o corpo na Hóstia e o Sangue no cálice.
2. Que Jesus está todo: com seu corpo, sangue, alma e divindade. Tanto na Hóstia consagrada, quanto no Cálice consagrado.
Diz o Concílio:
“Não existe contradição alguma no fato de Nosso Salvador assentar-se sempre à direita do Pai nos céus, segundo uma realidade que lhe é natural, mas que, ainda assim, para nós também se encontra em muitos outros lugares, sacramentalmente presente na sua substância, com uma realidade que as nossas palavras acham difícil de exprimir, mas que a nossa inteligência iluminada pela fé pode, contudo, aceitar, e em que nós devemos acreditar firmemente como coisa possível de Deus".
Ressaltamos aqui:
1. Que havia uma teoria que afirmava que era impossível Jesus estar ao mesmo tempo no Céu, e também presente na Eucaristia. E que, portanto, a presença de Jesus no Pão e no Vinho consagrados era apenas “simbólica”.
O Concílio rejeitou aquela teoria e definiu que ““Não existe contradição alguma no fato de Nosso Salvador assentar-se sempre à direita do Pai nos Céus, e ainda assim, para nós também se encontrar, em muitos outros lugares, sacramentalmente presente na sua substância.
2. Que, de fato se trata de “uma realidade que as nossas palavras acham difícil de exprimir”. Na Eucaristia há um mistério. É sempre difícil explicá-lo. Mas por ser difícil de explicá-lo, não significa que não seja verdadeiro.
3. Que, “a nossa inteligência iluminada pela fé pode, contudo, aceitar”.
Aqui se estimula a usar a razão, a inteligência, unida à fé, para aceitar esse mistério maravilhoso.
4. Que “nós devemos acreditar firmemente como coisa possível para Deus".
Para Deus, - e Jesus é Deus - que tem todo poder e toda glória, é possível estar glorioso nos Céus e ao mesmo nos Tabernáculos onde haja Hóstias Consagradas.
Diz o Concílio:
"No santíssimo sacramento da Eucaristia há uma presença real do corpo e do sangue. Está presente Jesus Cristo "verdadeiro Deus e verdadeiro homem". Está presente toda a pessoa de Cristo, inteiramente. "Logo depois da Consagração, estão presentes o verdadeiro corpo de Nosso Senhor e o seu verdadeiro sangue, em união com sua alma e sua divindade". A alma e a divindade, portanto, estão presentes, e não podem estar separadas do corpo e do sangue”.
Havia teoria que dizia que na Eucaristia só está presente o espírito de Jesus. Era uma presença espiritual, e não com seu corpo e sangue. Diante desta e de outras teorias o Concílio detalhou muito bem todas as coisas.
Ressaltamos aqui:
1. Que "No santíssimo sacramento da Eucaristia há uma presença real do corpo e do sangue”. Não apenas uma presença espiritual.
2. Que “Está presente Jesus Cristo "verdadeiro Deus e verdadeiro homem". E não apenas o Homem, ou apenas o Deus.
3. Que “Está presente toda a pessoa de Cristo, inteiramente”. Seu Corpo, Sangue, alma e divindade. Jesus é tudo isso, e portanto, é assim que ele está na Eucaristia
4. Que "Logo depois da Consagração, estão presentes o verdadeiro corpo de Nosso Senhor e o seu verdadeiro sangue, em união com sua alma e sua divindade". E não apenas o corpo e o sangue.
5. Que “A alma e a divindade estão presentes, e não podem estar separadas do corpo e do sangue”. Essas insistências nas definições detalhadas são feitas por causa de teorias erradas que havia, quanto ao modo da presença de Jesus na Eucaristia.
Diz o Concílio:
"O corpo está presente sob a espécie do pão, e o sangue sob a espécie do vinho, em virtude das palavras, mas o corpo está sob a espécie do vinho, e o sangue sob a do pão, e a alma sob ambas as espécies em virtude dessa relação e dessa concomitância natural, pela qual as partes do Cristo Senhor, que 'ressuscitado dos mortos, não morre mais' (Rm 6,9), estão ligadas entre si; quanto à divindade, ela está presente por causa da sua admirável união hipostática com o corpo e a alma.
Ressaltamos aqui:
1. Que "O corpo está presente sob a espécie do pão, e o sangue sob a espécie do vinho, em virtude das palavras” pronunciadas por Jesus: isto em o meu Corpo, este é o meu sangue. Mas o corpo está sob a espécie do vinho, e o sangue sob a do pão, e a alma sob ambas as espécies”.
Havia teorias que interpretavam literalmente as palavras de Jesus, e afirmavam que no pão estava só o Corpo, e no cálice, só o Sangue. O Concílio diz: sim, no pão consagrado está o corpo, mas não apenas o corpo. Está também o sangue, a alma e a divindade. Sim, no cálice está o sangue, mas não só. Estão também o corpo, a alma e a divindade de Jesus. Jesus todo.
2. Que “em virtude dessa relação e dessa concomitância natural, pela qual as partes do Cristo Senhor, que 'ressuscitado dos mortos, não morre mais' estão ligadas entre si.”
Não dá mais para separar, em Jesus ressuscitado, as suas partes: corpo, sangue, alma, divindade, humanidade. O Concílio nos diz ali que Jesus ressuscitado é um todo e está todo na Eucaristia, como ele é, e como está glorioso nos Céus.
3. Que “quanto à divindade, ela está presente por causa da sua admirável união hipostática com o corpo e a alma”. Portanto, também a divindade do Senhor se encontra onde estão seu corpo, sangue e alma humanos.
Diz ainda o Concílio:
"Por isso é absolutamente verdadeiro que ele está contido, seja sob uma, seja sob outra espécie, seja sob ambas. Na verdade, o Cristo total e integral existe sob a espécie do pão e sob qualquer partícula dessa espécie, como todo o Cristo existe sob a espécie do vinho e sob todas as suas partes" "No sublime sacramento da Eucaristia, o Cristo todo está contido sob cada espécie e, se separadas, sob cada parte de cada espécie"
Ressaltamos aqui diversos ensinamentos preciosos.
1. Que "Por isso é absolutamente verdadeiro que ele está contido, seja sob uma, seja sob outra espécie, seja sob ambas”.
Afirma-se aqui que Jesus está todo seja no Pão, seja no Cálice, seja no Pão e no Vinho unidos. Quem recebe uma espécie ou as duas, recebe Jesus todo. Quem, na comunhão recebe a hóstia, recebe Jesus todo. Quem bebe só do cálice, sem receber a hóstia, recebe Jesus todo. Quem recebe a hóstia e bebe do cálice, recebe Jesus todo. Quem recebe uma duas ou três hóstias coladas, recebe um Jesus todo.
2. Que “Na verdade, o Cristo total e integral existe sob a espécie do pão e sob qualquer partícula dessa espécie”.
Aqui se esclarece que Jesus está todo, quer na Hóstia inteira ou também na metade ou numa parte da Hóstia consagrada. Jesus não é dividido, quando se parte o Pão consagrado. Ele permanece todo.
3. Que “todo o Cristo existe sob a espécie do vinho e sob todas as suas partes".
Como ocorre em relação à Hóstia, ocorre em relação ao Sangue. Jesus está todo no Cálice. Quer na totalidade do sangue dentro do cálice, quer numa parte dele. Quem comunga uma parte do Sangue, recebe Jesus todo.
4. Que “"No sublime sacramento da Eucaristia, o Cristo todo está contido sob cada espécie e, se separadas, sob cada parte de cada espécie".
Jesus ressuscitado não pode mais ser dividido. Poderíamos dizer que na cruz Jesus foi dividido em três partes: o Corpo morto, o Sangue todo derramado, e o Espírito entregue ao Pai, ao morrer. Jesus ressuscitado é inteiro, completo, indivisível, glorioso e imortal.
Jesus está realmente presente no Pão e no Vinho consagrados, com seu Corpo, Sangue, Alma e Divindade, glorioso como está nos Céus.
Graças e louvores sejam dados a todo momento!
A Jesus realmente presente no Santíssimo Sacramento!
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