29 de julho de 2010

A MÍSTICA DOS DEZ MANDAMENTOS



Os dez mandamentos dados por Deus ao ser humano, e a cada um de nós em particular, são um sinal luminoso do seu grande amor para conosco. Um bom pai, porque ama seus filhos e os quer sadios, felizes, bons, honestos, trabalhadores e realizados, procura ensiná-los, dar-lhes bons conselhos e sábias orientações de vida. Assim também, porque nos ama, e quer sempre o nosso bem, nosso Pai celeste nos dá dez grandes ensinamentos em forma de mandamentos. Eles são grandes provas do amor do Pai para conosco.
O Catecismo da igreja católica ocupa 114 páginas para apresentar a doutrina dos dez mandamentos. Vale a pena estudá-los, a fim de beber de sua riqueza e fazê-los fonte de vida cristã. Detenho-me neste reflexão sobre o “espírito”, a “mística” dos mandamentos.
Uso a palavra “mística” no sentido de “espírito”, de “ótica espiritual”, de “objetivo íntimo”, de “finalidade última”. A mística, o espírito, a ótica, o objetivo, a finalidade dos dez mandamentos está no amor, encontra-se no grande amor de Deus, Uno e Trino, para com o ser humano. Deus, que o criou à sua imagem e semelhança e que o ama com amor eterno, quer orientá-lo pelos caminhos da verdade, do bem e da felicidade. Deus o faz também por meio dos dez mandamentos.
Quando um bom pai ensina, dá conselhos, exorta, chama atenção, e até dá ordens ao filho, sempre o faz por amor e para o bem do mesmo. É por infinito amor para conosco, seus filhos, que o Pai celeste nos dá os dez mandamentos. São diretivas de amor para o nosso bem maior. São setas indicativas do caminho verdadeiro para nossa vida. Quem vive esses mandamentos vive a verdadeira hierarquia de valores, caminha na verdade, faz sempre e só o bem, é mais feliz e sadio, granjeia o respeito, a estima e a admiração de seus irmãos. E sobretudo, tem a garantia do bem-querer e da bênção do Pai celeste, exatamente por ser-lhe obediente.

Marcadores:

A MÍSTICA DOS DEZ MANDAMENTOS

Primeiro: “Amar a Deus sobre todas as coisas”.
Deus precisa estar em primeiro lugar. Porque ele é amor infinito e nos ama com amor eterno, personalizado, misericordioso, gratuito e incondicional, deve ocupar o primeiro lugar em nosso coração, em nossa vida. Porque ele é o maior tesouro, a maior riqueza e a fonte de todas as bênçãos para nossas vidas, merece e precisa ser o primeiro entre todos os valores, precisa ocupar o primeiro lugar. Quando damos a Deus o “seu lugar”, “o altar principal”, colocaremos todos os outros valores no seu devido lugar. E substituiremos os não-valores por valores preciosos.
Para colocá-lo em primeiro lugar, para amá-lo com toda vibração do coração, e para tê-lo como a maior riqueza, é preciso “sentir-se amado por ele”, é preciso perceber todas as provas de amor que Deus Pai, que o Filho-Jesus e que o Espírito Santo já nos deram e nos dão a cada dia. É a vivência de uma amizade profunda e cultivada com o Deus-Trindade, é um amor entranhado e experimentado para com ele que nos levam a colocar “Deus em primeiro lugar”.
Ao colocarmos Deus em seu devido lugar, isto é, em primeiro lugar, todas as outras pessoas e coisas passarão a ocupar o seu respectivo lugar na verdadeira escala de valores. Aliás, só quando colocamos a Deus em primeiro lugar é que encontraremos a melhor forma de amar, de valorizar e de servir às pessoas humanas, e de usar de forma correta e sábia toda a criação divina.
Quando Deus ocupa o seu devido lugar em nossos corações e em nossas vidas, viveremos a verdadeira fé, sentiremos a força da esperança, e saberemos o significado da caridade, bem como de tudo quanto ela é capaz de realizar em relação a Deus e aos irmãos. Mais. A adoração, o louvor, a glorificação, a ação de graças, a rendição, a busca do perdão divino, enfim, todas as formas de oração brotarão do coração, naturalmente, como de uma fonte.
Quando vivemos no amor supremo de Deus, sentiremos horror a todo tipo de idolatria, superstição, magia, adivinhação, irreligião, enfim, a tudo o que queira ocupar o lugar de Deus em nossas vidas. Sentiremos horror a todo pecado, pois ele ofende a Deus, o bem supremo. Amar a Deus sobre todas as coisas: eis a fonte de todas as bênçãos.

Segundo: “Não tomar – não pronunciar – o santo nome de Deus, em vão”.
Porque o nosso Deus é santíssimo, seu nome também é santíssimo. A mística deste mandamento é o amor para com Deus. Por amor, por devoção, por afeto e carinho, por gratidão para com ele, que aliás nos ama com amor divino, devemos alimentar em nossos corações um grande respeito para com seu santo nome. Este mandamento nos ensina a não abusar do nome santo de Deus, a não usá-lo inconvenientemente, a não blasfemar contra Deus, a não jurar falsamente, a não desafiar a Deus.
Aquele que tem a Deus como bem supremo, como o “amor mais amado”, com certeza terá um grande carinho, respeito e veneração pelo seu santo nome.

Marcadores:

A MÍSTICA DOS DEZ MANDAMENTOS

Terceiro: “Guardar – observar e celebrar – o Domingo e os Dias Santos”.
Qual a mística deste mandamento? Por amor paterno, Deus nos prescreve este mandamento para mantermos, crescermos e amadurecermos sempre mais nosso relacionamento com ele, e neste relacionamento, mantermo-nos em nosso processo perene de salvação e santidade. Celebrar o domingo, participar da santa Missa ou de outras celebrações, celebrar santamente os sacramentos, dedicar-se a acolher mais a palavra de Deus é uma necessidade e garantia de se poder manter no amor de Deus, de crescer e amadurecer nas virtudes cristãs e nas boas obras.
Aquele que deixa de santificar o Domingo, que se ausenta da santa Missa dominical e dos sacramentos, aos poucos vai se distanciar de Deus, e vai perder o “bem supremo” com tudo quanto ele traz ao coração e à vida. Quando alguém se distancia e se esvazia de Deus, de seus mandamentos e de seus conselhos, passará a se encher das coisas mundanas, a acolher as paixões e vícios, a entrar por atalhos que levam ao pecado, à falta da bênção divina, e pior, ao caminho da condenação. É por isso, aliás, que Deus nos quer manter perto de si: para nos abençoar e conduzir pelo caminho do bem.
O descanso dominical também está na ótica do amor. A saúde é um grande dom de Deus. Descansar no Domingo é preservar e cultivar a saúde. É por isto que o Pai nos ordena o descanso dominical.

Quarto: “Honrar Pai e mãe”
Deus nos criou por amor e para o amor. O ser humano só se realiza se conseguir realizar-se no amor. Deus criou a família e a unifica pelos os laços de sangue para que seja um “ninho de amor”, aliás, imprescindível para a felicidade e a realização humana. Eis o ponto de partida para entender este mandamento: o amor profundo entre pais e filhos para formar uma família que seja um ninho de amor.
Quando há amor permanentemente cultivado entre os pais, eles o transbordam para os filhos. Filhos bem amados, amam e retribuem com amor. Esse amor leva os filhos a amarem, honrarem, cuidarem, defenderem e promoverem seus Pais.

Marcadores:

A MÍSTICA DOS DEZ MANDAMENTOS

Quinto: “Não matar”
A vida é o dom supremo ofertado por Deus ao ser humano. Considere-se com atenção que a vida humana é eterna. Ela tem início no útero materno, é vivida por um período no planeta terra, mas depois se projeta na eternidade. Portanto, quem a recebeu deve valorizá-la como um dom maior. Ao mesmo tempo, tem todo o direito de ser respeitado no que tange à sua existência.
Eis o espírito, a mística deste mandamento: amar e valorizar o dom da vida que se recebeu, e aquela que é vivida por todo ser humano, desde sua concepção até a eternidade.
Este mandamento de amor à vida inclui: valorizar a vida, cuidar da saúde, curar enfermidades, realizar tratamentos necessários etc. Exclui: suicídio, homicídio, aborto, eutanásia etc. Exclui tortura física, moral, psicológica e espiritual; exclui mutilações, maus tratos, violências, quer físicas, quer psicológicas e morais.

Sexto: “Não pecar contra a castidade”
A mística deste mandamento está na maravilha do amor de Deus que deu ao homem e à mulher o dom de gerar vidas humanas. Deus é o criador. O Homem e a mulher são procriadores do ser humano, com Deus. Para que se realizasse este plano divino da procriação, Deus criou o masculino e o feminino e lhes deu os órgãos genitais, necessários para a procriação. Daqui se deduz a grandeza, a santidade, a importância e a beleza da sexualidade e da genitalidade humanas e, ao mesmo tempo, a finalidade do seu uso, dentro do plano da procriação. Portanto, todo uso da sexualidade fora do contexto da procriação, contexto que inclui a comunhão de amor manifesta permanentemente dentro do casamento abençoado, se torna “abuso”, torna-se “pecado contra a castidade”.
O abuso inclui: masturbação caracterizada, fornicação (relação sexual entre pessoas livres: solteiros, viúvos...) prostituição, adultério, homossexualismo, lesbianismo, bem como toda forma mental de erotismos alimentados para gozar o prazer da genitalidade.
Só na ótica do amor é possível perceber a grandeza e a santidade da sexualidade e da genitalidade, bem com das relações sexuais santificadas pelo sacramento do matrimônio.

Marcadores:

A MÍSTICA DOS DEZ MANDAMENTOS

Sétimo: “Não furtar”
O amor de Deus gera o amor ao próximo, pois ele - Deus - nos faz filhos seus e irmãos entre nós. Este amor do próximo motiva e gera o respeito pelos bens dos irmãos. Dois irmãos de sangue que se amam muito, jamais furtarão um do outro, jamais tomarão os bens um do outro. Eis a mística deste mandamento: o amor respeita os bens alheios. O Pai celeste que criou todas as coisas para todos os seus filhos, quer que esses bens sejam bem distribuídos, e que cada qual respeite as posses do outro. O amor exige esse respeito.
Aquele que furta, rouba, prejudica a seu irmão, demonstra que “não é irmão” que não ama, que é egoísta, interesseiro e não merece confiança. Acaba, pois, prejudicando-se a si mesmo, adquirindo má fama e desprestígio pessoal.

Oitavo: “Não apresentar falso testemunho”
O espírito deste mandamento consiste na importância e necessidade da verdade, de sempre se usar a verdade em todos os relacionamentos humanos, desde os mais íntimos, como entre marido e mulher, pais e filhos, bem como para com todas as outras pessoas. Deus é a verdade. Revelou toda a verdade a seus filhos, e quer que estes aprendam, vivam, falem e propaguem a verdade.
Portanto, este mandamento nos chama a viver, a falar, a defender e a testemunhar a verdade dos fatos e dos acontecimentos, bem como a jamais testemunhar a favor da falsidade, da mentira, do erro, do crime.
Este mandamento exclui: ser ou apresentar testemunho falso, jurar falso, mentir, caluniar, difamar, maldizer, bajular, adular, revelar segredos confiados, não guardar segredos profissionais etc.

Marcadores:

AQ MÍSTICA DOS DEZ MANDAMENTOS

Nono: “Não desejar a mulher – o marido - do próximo”
A mística deste mandamento está – como em todos os outros – no amor. O amor só quer e só faz o bem. Jamais o amor admite destruir um matrimônio, um lar, uma família, pela sedução e conquista da mulher ou do marido do próximo, que é irmão.
Porque a “carne é fraca”, o Pai celeste propõe este mandamento como um indicativo especial para que haja todo cuidado sobre as possíveis tentações que possam surgir no coração, em relação à mulher ou ao marido de outro casal. Quantos lares desfeitos, quantos sofrimentos familiares, quantos filhos, esposas ou maridos traumatizados, por causa da queda nesta tentação. É por grande amor para com as famílias, para com os casais e para com seus filhos que Deus dá este mandamento.

Décimo: ”Não cobiçar os bens alheios”.
Quem ama o próximo como a um irmão, não quererá apropriar-se dos seus bens: eis a mística deste mandamento. Porque o coração humano é desejoso de possuir e de se apropriar desordenada e até injustamente dos bens materiais, o Pai celeste exorta seus filhos a que tenham cuidado e saibam vencer a tentação da cobiça, do desejo desordenado de se apropriar dos bens alheios. Jesus disse: “Onde está o teu tesouro, aí estará o teu coração”(Mt 6,21).
Este mandamento denuncia: a ambição desregrada de bens materiais, a inveja por causa dos bens alheios, o apego desordenado a posses materiais, as negociatas e jogadas de toda espécie para enriquecer-se ou possuir desonestamente.
Concluindo. Os dez mandamentos nascem, resumem-se e são explicitados por uma palavra-realidade: amor. Amor a Deus e amor ao próximo. A mística, o espírito, a fonte e a força dos dez mandamentos se encontram no amor.

Marcadores:

18 de julho de 2010

AMOR AFETIVO EM FAMÍLIA


Fomos criados à imagem e semelhança de Deus. Ora, Deus é Amor. Logo, fomos criados para o amor, para que sejamos amor, para “sermos amor em forma de pessoa humana”.
Porque fomos criados para sermos amor, nós só nos realizaremos se nós nos realizarmos no amor. O ser humano só se realiza em sua vida terrena se se realizar no amor.
O amor humano é necessariamente afetivo. Sua forma mais natural, espontânea, livre e imperativa de se manifestar é por meio de expressões afetivas. Embora o amor humano também sinta o impulso de manifestar-se por meio de gestos efetivos, o que o impulsiona e lhe dá significado de amor é o aspecto afetivo.
Quando o amor afetivo está presente, é dinâmico, vivo e ativo no coração humano, o amor efetivo naturalmente sempre se manifesta de forma pronta e até exuberante. Quando, ao contrário, o amor afetivo enfraquece, defina e empalidece, o amor efetivo tende a morrer.
A família é o “ninho de amor” natural, necessário e imprescindível para que o ser humano, “criado para ser amor”, possa receber e oferecer muito amor, desde a concepção, na infância, meninice, adolescência e juventude, até chegar à maturidade do coração.
O casal formou-se pela força do amor, em particular pelo amor afetivo que, aliás, deu significado forte e profundo ao amor efetivo no matrimônio. Ao mesmo tempo, o casal permanece unido, e fortalece cada vez mais os laços que o une, pelo exercício do amor afetivo. O amor afetivo dos pais, vivido, cultivado e amadurecido permanentemente, passa natural e necessariamente para os filhos. Este amor é o maior dom dos pais para seus filhos. Com esse amor, os filhos vão se realizar e ser felizes. Sem esse amor, os filhos serão problema para os pais e terão muitos problemas na vida.
Algumas vezes os corações dos casados, dos pais e dos filhos, sabem que devem amar, desejam amar, mas encontram barreiras, obstáculos, dificuldades. As maiores barreiras e obstáculos quase sempre se encontram dentro dos próprios corações. Outras vezes, os obstáculos são a própria oposição ao amor, quando não, uma contradição, que se chama “desamor”. É preciso conhecer esses obstáculos, saber encará-los de frente, conhecer as formas de removê-los, pôr mãos à obra, a fim de abrir os melhores caminhos para a vivência do amor.
No livro AMOR AFETIVO EM FAMÍLIA (Ed. Loyola) procuro esclarecer, argumentar e ensinar, de forma simples e direta, os caminhos do amor afetivo no casal, entre pais e filhos, bem como na família. Indico também os obstáculos e as formas de removê-los.
Meu único desejo é que este livrinho auxilie as famílias a serem “ninhos de amor”, onde todos sejam felizes e se realizem.

Marcadores:

1 de julho de 2010

AUXÍLIO ESPIRITUAL PARA OS FALECIDOS


O cristianismo foi iluminado e convencido pelos ensinamentos do Senhor Jesus, Filho de Deus, de que o ser humano não foi criado apenas para viver um tempo limitado na vida terrena, mas para viver uma outra forma de vida, após sua morte: uma vida eterna.
Foi iluminado e convencido, também, de que a vida que se inicia com a morte, terá um, de dois destinos diferentes: ou a felicidade gerada pela posse plena e definitiva de Deus, que chamamos de Céu, ou a infelicidade gerada pela perda culposa da presença de Deus para sempre, que se chama inferno. São inúmeras as citações bíblicas comprobatórias dessa verdade.
A própria vinda do Salvador, a centralidade de sua doutrina, a instituição da Igreja com todos os seus instrumentos sacramentais, doutrinários e espirituais, têm essa finalidade: levar o ser humano a crer em Deus e na vida eterna, e por isso a viver de tal forma segundo os ensinamentos divinos que chegue a “conquistar” a sua felicidade celeste. Vale a pena buscar na parábola do “Pobre Lázaro e do Rico Epulão” a profundidade do ensino de Jesus a respeito dessas verdades (Lc 16,19-31).
Tais verdades de fé levaram os cristãos, desde os primeiros anos após Pentecostes, quando, aliás, se iniciaram os martírios e a morte natural dos fiéis, a prestarem um culto aos falecidos. Não apenas um culto de memória, de saudade, de admiração, de gratidão, de imitação de suas virtudes, mas também de oração e de celebrações e ofertas do santo Sacrifício Eucarístico, como forma de beneficiá-los para sua nova vida. Essa prática religiosa, baseada na fé cristã, prossegue até os nossos dias.

Purgatório
Para que orar, celebrar Santas Missas, realizar atos de caridade, alcançar indulgências etc. em favor dos falecidos? Faz sentido? Eles são realmente beneficiados? Os que vão para o Céu já estão na plena felicidade e os que vão para o inferno, já não há o que fazer por eles, pois o inferno é eterno, como o Céu. Então, para que orar pelos mortos?...
Baseada na Sagrada Escritura, iluminada pelo Espírito Santo e pela reflexão teológica, a Igreja – desde os primórdios – tem a certeza da existência do purgatório, ou seja, de um período de purificação para aqueles que morreram na amizade de Deus (em estado de graça), mas que levam consigo “impurezas, imperfeições” que precisam ser “purificadas”, para poderem entrar no céu.
Eis o ensinamento da Igreja: “Os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não estão completamente purificados, embora tenham garantida a sua salvação eterna, passam, após a morte, por uma purificação, a fim de terem uma santidade necessária para entrarem na alegria do Céu”. “A Igreja denomina “Purgatório” esta purificação final dos eleitos, que é completamente distinta do castigo dos condenados”. (Leia mais no Catecismo da Igreja ns. 1030-31-32) Nesse texto está uma certeza fortemente iluminadora: todos os que estão no purgatório “estão salvos e irão para o Céu”.
Na Bíblia não ocorre o nome “purgatório”, mas sim a realidade da “purificação”. Já no A.T., no segundo livro dos Macabeus conhecemos essa prática de “purificação dos falecidos”.
Após uma grande batalha onde morreram muitos de seus soldados, o general Judas Macabeu, animado por sua fé, assim fez: “No dia seguinte, Judas e seus companheiros foram tirar os corpos dos mortos, como era necessário, para depô-los na sepultura ao lado de seus pais.(...) Em seguida, fez uma coleta, enviando a Jerusalém cerca de dez mil dracmas, para que se oferecesse um sacrifício pelos pecados: belo e santo modo de agir, decorrente de sua crença na ressurreição, porque, se ele não julgasse que os mortos ressuscitariam, teria sido vão e supérfluo rezar por eles. Mas, se ele acreditava que uma bela recompensa aguarda os que morrem piedosamente, era esse um bom e religioso pensamento; eis por que ele pediu um sacrifício expiatório para que os mortos fossem livres de suas faltas”. (Cf. 2Mc 12, 39. 43-46) Saboreie o leitor atentamente a riqueza desse texto... (Cf. também Mt 12, 31; 1Cor 15; 1Pd 1,7)
(Continua nas duas postagens seguintes...)

PURIFICAÇÃO ESPIRITUAL


(Continuação da postagem anterior...)
Purificar de quê? 1.Dos pecados veniais não perdoados antes da morte. 2. Das seqüelas que permaneceram na pessoa, por causa dos pecados mortais perdoados em vida, ou de todos os outros pecados veniais perdoados. “Todo pecado, mesmo venial, acarreta um apego prejudicial às criaturas, que exige purificação, quer aqui na terra, quer depois da morte, no purgatório” (CIC n.1472). Um exemplo: alguém pratica adultério, ou prostituição, ou relações sexuais de solteiros. Arrepende-se e confessa sinceramente seus pecados. A culpa é perdoada, mas permanece a experiência erótica que muitas vezes grita para voltar ao prazer. Essa seqüela pre-cisa ser “purificada”, ou antes da morte ou no purgatório. Outros levam consigo, na morte, ressentimentos, mágoas, sentimentos de vingança; outros, apegos fortes a bens materiais; outros, tropeços na fé causados pelo busca de soluções de problemas em falsas religiões; outros por más ações ou intenções no exercício de sua profissão etc. Todas as seqüelas “sujas” dos pecados, mesmo perdoados, precisam ser “purgadas”, para se po-der entrar na visão beatífica.

Sofrimento
Os falecidos que estão no purgatório sofrem. A tradição da Igreja descreve, desenha e pinta o purgatório como “um lugar cheio de chamas de fogo purificador”. É evidente que se trata apenas de “dar uma idéia material, visual” daquele sofrimento. O sofrimento purificador é causado principalmente pelo fato de a pessoa estar ali pertinho de Deus e do Céu e ainda não poder entrar, “por própria culpa”, por causa de seus pecados. O desejo de estar com Deus, com os Anjos e os Santos é tão profundo, tão intenso, que a espera e a demora causam “sofrimento”, como um “fogo” na alma. Tal desejo da posse do Céu vai intensificando na pessoa o amor por Deus. E é esse amor que “purga”, limpa o coração para a posse plena e eterna de Deus.
O sofrimento do purgatório é tão intenso e profundo exatamente por causa da intensidade do desejo de querer entrar no Céu, e “ainda não poder”. Tal sofrimento não deixa a pessoa infeliz, revoltada, por três razões: 1. Porque sabe que o seu Céu está garantido e que vai chegar sua hora de possuí-lo. 2. Porque sabe que a “espera e a demora” foram causadas por suas próprias culpas. 3. Porque sabe que a Igreja e seus amigos vivos podem e irão socorrê-los, apressando sua purificação e sua entrada no Céu.
(Continua na postagem seguinte...)

SOCORRO PURIFICADOR PARA OS FALECIDOS


Após o que foi escrito na postagem anterior, fica muito fácil compreender o significado e a importância de socorrer espiritualmente os falecidos que se encontram na purificação.
Todo sufrágio que realizarmos pelos falecidos tem como objetivo alcançar-lhes o perdão divino e a purificação plena, a fim de que o mais depressa possam sair do sofrimento e entrar na glória dos Céus.
O objetivo de “tirarmos do sofrimento” e de “levarmos para o Céu” o mais depressa possível os nossos entes queridos falecidos, deveria induzir-nos a realizar de imediato o maior número possível daqueles auxílios espirituais mais perfeitos e apropriados, a eles aplicáveis. Por que deixá-los sofrer, se podemos levá-los para a felicidade do Céu? Por que deixá-los esperar no sofrimento, talvez por muito tempo, se podemos socorrê-los rapidamente?
Os socorros mais indicados são: A celebração da Santa Missa oferecida pelos que partiram. Todas as orações dirigidas a Deus em sufrágio dos que partiram. Obras de generosidade e caridade realizadas e ofereci-das a Deus, pelos falecidos. As indulgências aplicáveis aos falecidos, como aquelas dos dias de finados.

Façamos o melhor
A melhor de todas, a mais apreciada por Deus, a que maior poder possui para purificar os falecidos é, sem dúvida, a Santa Missa oferecida por eles. Isso porque na Santa Missa se torna realmente presente o “Santo Sacrifício de Jesus, oferecido na cruz”. O sacrifício da vida de Jesus, oferecido na cruz, é tão meritório e pode-roso que pôde salvar a humanidade toda. Ora, por vontade expressa de Jesus, seu sacrifício oferecido na cruz se torna realmente presente em cada Santa Missa celebrada. Oferecer uma Santa Missa por um falecido é como “fazer uma troca” com Deus Pai. Nós lhe entregamos o Corpo sacrificado e o Sangue derramado, com todo o amor com que Jesus se imolou, para que “em troca”, o Pai perdoe e purifique o falecido, e o leve para o Céu. O que de mais eficaz poderíamos fazer por um falecido?...
Quem compreende o que está dito acima, vai “superar a tradição” de apenas oferecer missas de 7º, 30º e de aniversário de morte. Por que não oferecer Santas Missas no 1º, no 2º, no 3º, no 4º dia, todos os dias, por muitas semanas e até meses seguidos? Se, por nossa falta de fé e de piedade, não conseguirmos tirar da purifi-cação nosso ente querido na missa de 7º dia, vamos deixá-lo sofrer e esperar nosso socorro até a Missa de 30º dia?... Ou até a Missa de um ano depois de sua morte?
Leitor, deu para compreender?...